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Mãos Cheias de Nada

Retalhos dos meus dias tristes...

Mãos Cheias de Nada

Retalhos dos meus dias tristes...

30.Jun.16

Me & Myself

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Escrevo-te porque estou a adorar conhecer-te. Escrevo-te porque espero em breve não estar aqui. Escrevo-te porque as pessoas vão mas os papéis ficam. Escrevo-te porque tu sabes quem és mas escondeste-te atrás de mim. Escrevo-te porque não quero mais ser a tua sombra. Assume o teu papel. E não, não é o de mãe. Mas também tu sabes isso, já começaste a deixar de ser a mãe do filho que nunca tiveste. Afinal, e ainda bem que é assim, a mãezinha dele ainda está bem viva, ela que lhe apare os golpes. Tu cresceste, e ele se te quiser acompanhar terá que crescer também. Mas não esperes por depois dos 40, e não te massacres com culpas, porque nunca estiveste nisto sozinha, as relações são a dois.

E falando em mãe, não, tu não és a tua mãe. Mas que raio! Subjugada às vontades do parceiro? Anulares-te só porque achas que ele vai gostar um pouco mais de ti? Os nãos são sempre acompanhados de um milhão de desculpas? Eu estou consciente do desrespeito que exerci comigo ao negligenciar as minhas vontades. Dependência cega. Aniquilar a minha própria vida em detrimento da dele. É uma morte silenciosa. Mas tu estás bem viva, certo? E a tua mãe é como é, mas é ela. Prejudicou-te? É verdade. E agora? Vais continuar a lamuriar-te com isso? Claro que não. Só não vais repetir para ti tudo o que condenaste nela. Não gostas da cozinha? Não dás colo? Que se dane, és habilidosa noutras áreas. E o facto de não andares por aí a distribuir beijos e abraços é porque nem todos são dignos desse teu carinho, não faz de ti uma mulher fria ou distante, apenas selectiva.

E aprendeste finalmente que podes dizer não. Gostei de ouvir o teu “não, apenas porque não quero”. Foi redondinho mas assertivo. Ele que faça o que quiser, mas tu não queres, ponto. E o melhor foi saber que ele vai e tu ficas, mas não lavada em lágrimas…É muito mais giro ver-te andar pela casa a experimentar os trapos e aos pulos ao som da música que gostas mesmo de ouvir. E é bom ver-te sorrir. Os teus olhos sorriem verdadeiramente. E gostei de ver olhares-te ao espelho. Tantas vezes me diziam que estava bonita e eu não acreditava. E tu agora olhas para ti e gostas do que vês. E tens todos os motivos para isso! Começaste a aproveitar os teus atributos e a fazer uso deles. Acho muito bem! E quando descobriste que tinhas uma borbulha e lhe disseste “temos pena amiga, mas hoje vais ter que ir dançar e beber um copo comigo!” E ainda lhe piscaste o olho. Genial! Lembras-te quando eu inventava desculpas para não sair porque tinha uma borbulha na cara?? Tu até és espirituosa! Eu era muito mais sarcástica. Tu brincas e fazes trocadilhos com as palavras. Eu fazia jogos, o que por vezes até se tornava perigoso. Também reparei que já aliviaste a carga negativa que carregavas do “tas sempre magra, que nervos!”, “pareces sempre uma gaiata!” E mais uma vez não, não é “por trás liceu, pela frente museu”. És jovial sim, até na tua forma de estar, porque tens um lado de menina mulher, que ainda joga à bola ou às raquetes na praia e rebola na areia com os miúdos. Já não te preocupas tanto com esses comentários que sempre achei maliciosos. Alguns saberás que o são efectivamente, outros não serão mais do que preocupação, ou admiração. Lembra-te que existe por aí muito boa gente frustrada e de língua afiada.

Percebi também que estás mais tranquila em relação ao futuro. Tens sonhos, objectivos, obviamente, mas aquelas expectativas angustiantes de como vai ser amanhã, estão mais controladas. Sabes que não precisas sofrer por antecipação, nem criar imagens negativas sobre algo que nem sabes se vai acontecer. Começaste a perceber que afinal és uma mulher forte e capaz, e os desafios enfrentarás de cabeça erguida e sem receio de magoar os outros. Até porque és ponderada e tens bom senso. As tuas decisões serão sempre acertadas, desde que estejam de acordo com as tuas convicções e crenças.

Quantas vezes já ouviste que és uma grande mulher? Uma mulher com M maiúsculo? Eu pensava sempre, “oh…tantas pessoas que já passaram pelo mesmo e sobreviveram, não me faz mais mulher por isso”. Mas a verdade é que és grande. Que importa se não tens uma casa em teu nome? Se o carro que tens não é teu? E se no teu trabalho não existes? É apenas no papel… Não foi tudo construído com o teu esforço e determinação? Não, não és obcecada, és determinada e com uma força interior para dar a volta às situações mais adversas. Perdeste tudo. Começaste do menos zero e construíste tudo de novo. Mas trouxeste-me contigo. Esse foi o teu maior erro, mas mais uma vez não te condenes por isso. Percebeste muito a tempo que algo estava errado.

Sabes a frase que escreveste no teu blog? “Existem dois tipos de dor: a que te magoa e a que te muda” Tu optaste pela segunda. Percebeste que antes demais queres estar de bem com a vida e sabes que só o conseguirás se estiveres bem com o teu eu. “Escolhe-me a mim! Escolhe-me a mim!” E tu escolheste-te. Porque realmente gostas de ti. Perfeita? Que importa. A perfeição é tal e qual aquelas botas que tu adoras. Giras, combinam com tudo, mas acima de tudo sentes-te confortável com elas.

Tens um mundo de qualidades e defeitos. Que importa se vais continuar a ser ciumenta? És touro e basta. Desde que não te deixes levar pelos ciúmes, eles até não te farão mal. Manter-te-ão atenta o quanto baste. Teimosa? Não, apenas guardiã das tuas convicções. És leal e confiável e aprendeste a confiar um pouco mais. Como alguém nos disse, não precisa, nem deve ser a 100%, até para nossa protecção, e não é em todos evidentemente, mas compreendeste que tens algumas pessoas que gostam de ti e te admiram pelo que és, sem qualquer esforço desmesurado de agradar. És intuitiva, sempre foste, apenas tens que saber decifrar as tuas vontades e as tuas paixões, para conseguires ouvir genuinamente a tua voz interior sem te perderes na dualidade do que és e do que eu era. Lembra-te que a nossa mente é criativa, mas também é destrutiva, é o bem e o mal. Se te assumires e respeitares tal como és poderás confiar na tua intuição e seguir o teu lado criativo.

E finalmente vais começar a divulgar o teu blog?! Já não era sem tempo. A escrita é a tua magia, faz uso dela, aproveita-a. Tem sido libertador e um grande companheiro nesta jornada misteriosa da tua aprendizagem. Que importa se pode ferir as susceptibilidades de quem o ler. “Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele” certo?! Todos temos um caminho e tu estás a trilhar o teu. Orgulhas-te diariamente dele e segues em frente. E por isso te deixo estas palavras. Ama-te como nunca foste amada, és um ser magnífico e genuíno. E se em algum momento tiveres dúvidas, relê-as e lembra-te de que és. Só assim me poderás deixar ir…

29.Jun.16

Simplesmente Não

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Ser feliz dá trabalho. Efectivamente é muito mais fácil entregarmo-nos à tristeza e não fazer mais nada. Esperar que alguém faça tudo por nós. E que tome as nossas decisões, libertando-nos das consequências. Portanto, ser feliz dá trabalho. É preciso enfrentar medos, não antecipar tristezas e lutar contra a angústia e os sentimentos de culpa que as adversidades da vida nos colocam. É preciso coragem. É preciso acreditar, confiar e não ter medo dos desafios. E é preciso saber dizer não.

Somos muitas vezes formatados para o facto de negar algo aos outros não é, de forma alguma, o melhor caminho para fazer amigos ou para manter as melhores relações com o próximo. O senso comum diz-nos que devemos estar disponíveis e evitar dizer não, de modo a não gerar conflitos. Mas ao evitarmos esses conflitos externos, não estaremos a gerar conflitos internos? Se no nosso íntimo queríamos dizer não e dissemos sim, não estaremos a criar um desequilíbrio emocional?

Muitas vezes temos receio das consequências do nosso não, das fantasias negativas que criamos em relação às reacções daqueles que o recebem. Mais uma vez as necessidades de aceitação, de querer agradar, de querer ser insubstituível, são razões intrínsecas à incapacidade de dizer não. Mas se temos consciência dos nossos fundamentos não nos podemos sentir culpados. Não deve haver lugar para culpas quando as decisões que tomamos vão de encontro às nossas convicções.

Acima de tudo trata-se do respeito por nós próprios. Há que estabelecer limites e não ceder diante de chantagens emocionais. Na realidade não pode existir a obrigação de dizer sim. Não pode haver imposição por parte dos outros. O que pode acontecer sim são influências, persuasões, mas não obrigações. A escolha é nossa, aos outros cabe apenas entender e aceitar ou não, mas terão sempre que respeitar. Aprender a dizer não sem grandes justificações pode causar algum desconforto, mas se for sincero e assertivo pode ser muito libertador.

E hoje foi assim…um “Não, simplesmente porque não quero” soube-me pela vida…

27.Jun.16

Dia de Detox

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Pessoas Tóxicas. Nunca tinha pensado em tal coisa. Será que existem? Com certeza que sim. Ao longo da nossa vida passam-nos inúmeras pessoas pelas mãos, relacionam-se connosco, vivem connosco…Contudo, por mais sorridentes ou brilhantes que essas pessoas sejam nem sempre nos fazem bem. Nem sempre é um querer mal, mas são pessoas que de uma maneira ou de outra, ou em determinados períodos da nossa vida, simplesmente nos sugam toda a nossa energia.

 

E não, nem sempre são as pessoas tristes de olhos carregados ou expressões depressivas, que são tóxicas. Os olhos mais cintilantes, ou a alegria exasperada, por vezes também nos infectam a alma, drenam-nos as emoções e deixam-nos mais fragilizados.

 

Seja a culpa, o medo, o trabalho, os interesses, a imensa necessidade de aceitação e aprovação, ou simplesmente porque acreditamos gostarem de nós e que nos fazem bem, permitimos que permaneçam na nossa vida, sem darmos conta de que a nossa auto-estima e insegurança as alimenta potenciando a sua capacidade de nos desgastar. Sem dar conta, tornam-se “vampiros” emocionais que nos sugam toda a atenção e por isso deixamos que se mantenham e participem directamente na nossa vida, sem reconhecemos que a nossa melhor versão é anulada e desvalorizada.

 

O problema está em reconhecê-las e saber conviver com elas, ou até mesmo afastá-las do nosso seio. Mais uma vez o medo, a necessidade de aceitação, o meio onde estamos inseridos, a fraqueza da eterna disponibilidade, impede-nos de cortar com esses vínculos, reconhecendo que o nosso bem-estar deverá estar acima de todas as razões que nos pareçam razoáveis. É preciso fazer um detox e aceitar que nem todos têm que fazer parte da nossa vida da mesma forma.

 

Dar e receber, sem obrigação de parte a parte, é um dos princípios das relações saudáveis. Pessoas inspiradoras, resilientes e incentivadoras, que nos acrescentam e nos enriquecem, e que acima de tudo reconhecem e potenciam as nossas capacidades, trazem consigo relações muito mais gratificantes e é destas que é importante nos cercármos.

 

24.Jun.16

Cleaning Day

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 Hoje é dia de limpeza.

 

E não, não é aquela a que habituei os demais. Casa perfeita, estudada ao pormenor, com excesso de organização, roupa separada por tipos e cores e engomada ao mais ínfimo pormenor. Trata-se sim de limpar e arrumar o sótão. Agora mais consciente, embora ainda com muito por aprender, é tempo de mudanças, de reajustes, de conciliações. É tempo de confrontar os comportamentos aprendidos como sendo os correctos, e redescobrir as minhas verdades e os meus valores. É tempo de romper com as crenças inadequadas e libertar-me destas verdades absolutas que jamais deveriam ter sido as minhas.

 

Todos sabemos, ou deveríamos saber, que é na nossa infância que nos moldamos e recebemos todas as influências que nos definem ao longo da nossa vida. Desde a religião à cultura, os preconceitos, as regras de conduta, as crenças e os valores, tudo se molda e delineia numa fase da nossa vida em que ainda não nos assiste o discernimento de escolher. E chegada a fase adulta raramente temos capacidade de análise para tentar perceber se essa linha de pensamento e de valores se coadunam connosco ou não. Se de facto é sob esses valores que queremos reger a nossa vontade, ou se mais do que crenças são estigmas que carregamos uma vida inteira.

 

E hoje é dia de limpeza.

 

É tempo de admitir as minhas imperfeições sem qualquer displicência e encontrar a coragem para levar uma vida autêntica. É tempo de me libertar de mais alguma bagagem e seguir o meu propósito. Sorrir olhando-me nos olhos e mesmo do alto do meu rabo-de-cavalo tantas vezes odiado, ver o patinho feio, tal calimero, arrumado dentro do baú lá no fundo do sótão, de onde tal fantasma numa deveria ter saído. Poderia deitá-lo fora, mas ainda não… os “Baby steps” fazem parte desta jornada misteriosa…

23.Jun.16

Retrospectiva

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Nunca pensei estar aqui. Não sou céptica em relação à psicoterapia. Sempre achei efectivamente que escondermo-nos atrás de ansiolíticos e antidepressivos isso sim, seria um erro. Pelo menos sem antes se entender o que poderá levar um ser humano a estados alarmantes de tristeza, insegurança, ansiedade, sofrimento e mesmo desespero. É doloroso e frustrante perceber que afinal tantas atitudes e comportamentos repetitivos têm uma mesma razão de ser. Que são efectivamente excessivos, causando mais dor e sofrimento do que seria de esperar. A necessidade de valorização através do olhar do outro, o fazer-me sentir necessária, distorceu a minha auto-imagem e a minha identidade perdeu-se, e viver em função dele, do seu bem- estar e da sua satisfação, tornou-se uma vivência diária. E no final percebo que o meu padrão se repete e que a esposa contra a qual sempre lutei – submissa, dona de casa, mãe, triste e de olhos postos no chão – está demasiado interiorizada. De uma forma mascarada, atrás de uma mulher super independente, realizada profissionalmente e sem filhos por opção, mas entre as quatro paredes do lar a projecção do amor é intensa e desequilibrada. E volta o medo da rejeição…

Sei que sou uma mulher inteligente e cresci numa era e numa sociedade em que a mulher é mais do que uma esposa submissa que vive em prol do marido. Talvez por isso tenha a noção de que não era isto que queria para mim. Mas infelizmente corri atrás. Recordo perfeitamente que no final do meu primeiro casamento, sentia uma extrema e estranha necessidade de liberdade. Um simples chegar a casa sem ter de me justificar pela hora ou pelos sítios por onde andei, dava-me um prazer enorme. Recordo ainda de ter assumido que um dos meus grandes erros naquele casamento teria sido o facto de me ter anulado, de ter deixado de viver a minha vida para viver a vida que o meu ex-marido queria (pensava eu!). Certo era que se eu vinha de uma família disfuncional, ele não se ficaria atrás, mas também era óbvio que essa seria a minha escolha.

Hoje olho para o meu actual marido e, apesar de me ter decepcionado, ou não o tivesse eu colocado num pedestal, moldado à minha imagem de homem perfeito, que me amaria demais e dependeria de mim, de certa forma, continuo a acreditar que a minha escolha foi acertada. Não da forma como o tentei esculpir, educar, ensinar, fazer dele um “homem”, mas pelo que ele é na sua essência. Contudo, uma mudança de comportamento e a falta de reciprocidade representou uma ameaça, e como era de esperar, uma recaída. A necessidade de controlar aumentou, o desespero por ajudar e apoiá-lo é desmesurável e os ciúmes exagerados levam à perda de controlo das emoções e das atitudes…volta a tristeza profunda e o enorme sofrimento.

Conhecer-me e entender as causas dos meus comportamentos tornou-se imperativo. Disseram-me para me zangar com a minha mãe, não no sentido literal da palavra, mas de uma forma consciente. A verdade é que levei uma vida a discutir com o meu pai. Fiz-lhe frente muitas vezes, até por ela, quando ele lhe levantou a mão, enquanto o meu irmão permanecia impávido e sereno…A verdade é que levei anos a zangar-me com ele, sem dar conta que aquela que estaria ali para mim em quase tudo, que me encobriu nas saídas, nos namoros, nos cigarros, na primeira pílula que apanhou, afinal de contas, foi quem me passou quase tudo aquilo que sou hoje. Uma mãe que repetiu inúmeras vezes que os homens são como são, que temos que “calar e comer”, e que me mostrou que o amor é isto. Acatar tudo o que o nosso “mais que tudo” faz, assumir que um dia ele irá ser HOMEM e que até lá teremos que ser pacientes e mantermos constantemente a esperança de que o amanhã será melhor. Agradar é preciso, ceder é dever nosso, e com o nosso amor ele irá mudar.

Talvez se a minha mãe um dia se tivesse zangado com o meu pai porque ele se esqueceu do meu aniversário, lhe tivesse mostrado as minhas boas notas, com o orgulho que merecia, lhe tivesse dito que ganhava livros na primária porque era a melhor a português, que no desporto que praticava estava sempre entre as melhores, que tinha tantas capacidades como o meu irmão homem, talvez eu não tivesse tanto esta necessidade de provar que sou capaz e que preciso que me dêem o devido valor.

Sempre achei que o meu lado de maria-rapaz resultava do convívio excessivo com o irmão que admirava, mas agora questiono se esse comportamento não era uma espécie de grito do epiranga! Enquanto menina-mulher os meus comportamentos não seriam aceites, mas como rapaz sim. Desde aguardar por uma pilinha que nunca cresceu, o cabelo sempre curto, as t-shirts, os jeans e os famosos sapatos vela. Futebol, jogo do vitória, bicicleta e skate e o programa de domingo passava muitas vezes por assistir aos jogos de futebol no estádio com o pai.

Descobrir aos 19 anos que afinal tenho uma farta cabeleira com uns caracóis quase perfeitos (têm dias!!) é no mínimo estranho…Não tenho nada contra a homossexualidade, mas felizmente que o meu lado feminino floresceu, distorcido, mas floresceu…porque apesar de tudo gosto de ser mulher.

Talvez se a minha mãe não tivesse levado uma vida a relatar todas as minhas “asneiras” na infância, a lembrar-me  a mim e aos que me rodeiam o quanto era um bebé feio, ao contrário do irmão e dos primos, e o quanto era uma péssima criança, ao contrário dos outros que comigo viviam…

Talvez se não a visse tantas vezes chorar escondida atrás dos tachos e das panelas, e por todos os cantos daquela casa, talvez se ela não me tivesse dito sempre que o pai não podia saber, mas podia gritar sempre que lhe apetecesse, porque era normal...trabalhava muito para nos sustentar...

Talvez se nos momentos em que o meu pai perdia a razão e me dizia as coisas mais estapafúrdias, ela tivesse saltado em minha defesa, fazendo-lhe frente e por uma vez me defendesse…

A verdade é que o medo certeiro de repetir um padrão semelhante ao da minha mãe me atirou exactamente para o mesmo comportamento, ou não representasse ela aquilo que fica entre as tais quatro paredes de um lar e a matriz de vida pela qual passei a reger-me. Sistematicamente procuro o afecto e a aceitação que me faltou neste lar. Não fui bem sucedida na minha infância e por isso repetido tudo até à exaustão…tento sempre de novo, e de novo espero que respondam com afecto às minhas necessidades, porque há que ter esperança que um dia deixarei de ser uma eterna insatisfeita.

 

Mas pelo menos hoje sei que assumi um compromisso e que quero definitivamente romper com os meus padrões de relacionamento destrutivos, com estes pensamentos obsessivos e sombrios. Encontrar a minha essência e sem a expectativa de que os outros vão gostar e dar valor. É fundamental tirar a “palas” dos olhos e compreender que há muito mais para além desta angústia constante. Nos meus dias bons isto é muito gratificante…

E com tudo isto estou cansada. Exausta diria…mas não o suficiente para desistir.

 

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